Breve Histórico:

A dança do Boi de Mamão é a brincadeira mais cultivada e, por isso mesmo, a mais apreciada dança folclórica da região. Sendo uma das tradições folclóricas mais antigas de Santa Catarina, principalmente nas regiões litorâneas, recebe maior destaque entre o natal e o carnaval.

Inicialmente, o Boi de Mamão era denominado de “O Folguedo do Boi Falso” ou “O Boi de Pano da Ilha de Santa Catarina” e, somente na década de 1930, recebe o nome atual. Isso porque as crianças, na falta do crânio original, usaram um mamão para fazer a cabeça do boi. Mas ainda há algumas divergências no que diz respeito à origem do nome.

Segundo Oliveira (2004, p. 89) 13 , “[…] este arraial pertencia ao município de Itajaí e nem sempre teve esse

nome. Anteriormente, chamava-se Santo Amaro, nome do padroeiro do Arraial”. Assim foi que surgiram os nomes dos Amaros (como o do Senhor Amaro Juveniano Emílio) cuja família é a única no município de Navegantes a ter uma estrutura de Boi de Mamão organizada.

A cultura trazida pelos colonizadores portugueses, assim como as brincadeiras do Boi de Mamão, a dança do pau-de- fitas, as festas juninas, o terno de reis, os artesanatos e a fabricação de redes de pesca, tarrafas e barcos de madeira, compõem o cenário da tradição e da cultura local, que têm a economia e a atividade profissional relacionadas à indústria pesqueira.

O bloco carnavalesco Estrelinha do Mar, outra manifestação cultural local, foi fundado em dezembro de 1982 por Manoel Mafra Filho, no bairro São Pedro, em Navegantes, Santa Catarina, bairro esse habitado por Seu Léca – in memórian: também fundador do bloco carnavalesco Estrelinha do Mar. Em 2001, o então presidente do bloco, Carlos Alberto Emílio, além dos compromissos assumidos com os 350 componentes durante o período do carnaval, também assumiu a responsabilidade de desenvolver o Grupo Folclórico do Boi de Mamão. Desde então, o Bloco Estrelinha passou a desenvolver núcleos de trabalho criando-se ações sociais e, dentre elas, o resgate da cultura açoriana envolvendo crianças e adolescentes carentes que se encontravam em situações de risco.

O bairro São Pedro é o único da região a ter uma estrutura montada e reconhecida pelo Ministério da Cultura, o que aconteceu graças ao Projeto Humberto de Maracanã, promovido em 2010. O incentivo para a preservação cultural veio da matriarca da família Emílio, dona Joséfa Nunes Emílio, que, com simplicidade, soube repassar para seus filhos a necessidade de desenvolver ou resgatar valores éticos, de respeito, solidariedade, de cuidado e amor ao próximo. E tudo isso foi feito por meio de promoções de ações sociais através do Boi de Mamão, envolvendo as crianças do bairro São Pedro de Navegantes. Esse trabalho foi iniciado em 2001.

A brincadeira do Boi de Mamão é uma das manifestações mais conhecidas do litoral catarinense, que em forma de brincadeira retrata todo enredo da morte e ressurreição do Boi, contando com a participação de outros personagens como: a Bernúncia, o Cavalinho, a Cabrinha, o Urubu, a Maricota, os Mascarados, o Doutor, a Benzedeira, o Laçador, entre outros que, em forma de versos

e cantoria, contagia e envolve todo o público.

Bernúnça: Um “dragão do mal” com uma boca gigante que corre em direção ao público na tentativa de engoli-lo. De acordo com a tradição, Bernúnça comeria as crianças desobedientes ou não- batizadas e a criança passaria, então, a fazer parte de seu corpo. Sua origem deve-se à Coca, um monstro que desfilava em festas católicas na região da Galícia, atual cidade de Allaris.

A cabra: Outra personagem com origem bastante curiosa é a da cabra. Na Espanha, quando o boi nega o combate é gíria comum entre os profissionais toureiros chamá-lo de cabra. Na encenação do Boi de Mamão, a cabra entra logo após o boi e representa o touro que não quer lutar. E é nesse momento que a cantoria grita “É cabra, é cabra!”.

Maricota: Uma mulher muita alta que rodopia e balança os braços, atingindo intencionalmente o público.

Cada bicho tem melodia e ritmo diferentes dos demais, e, consequentemente, dança e coreografia diversas. Os personagens são confeccionados com pano, esponja, papel maché, arame, madeira e materiais diversos.

O grupo composto de elementos que formam a cantoria é liderado pelo chamador e acompanhado geralmente por uma sanfona e percussão com especial destaque para o pandeiro. Embora isso seja raro, o acompanhamento musical é também realizado por um instrumento característico denominado “orocongo” – feito de um coco da Bahia, seccionado e revestido com couro crú, e uma corda de viola, da qual o som é extraído com um arco de madeira, no qual são fixados fios de crina de cavalo – uma espécie de rabeca ou violino.

De acordo com a região em que a peça é apresentada, outras personagens variam, sendo as mais comuns: a Viúva, o Macaco Tião, o Cavalinho, o Sapo Cururu, os outros bois, os corvos, o urso, os palhaços e a jaruva.

Referências:

BALTAZAR, Maria Olivia Emilio. Boi-De-Mamão: uma manifestação cultural que precisa ser preservada. Relatório de Estágio. Curso de Pedagogia. Sistema de Ensino Sinergia – Navegantes. 2009.

D’ÁVILA, Edison; D’ÁVILA, Márcia. Festas e Tradições Populares de Itajaí. 2. ed. Itajaí: Fundação Genésio Miranda Lins, 2001.

OLIVEIRA, Didymea Lazzaris. O Navegantes que eu Conto. Navegantes: Papa Terra, 2012. 400 p.

Disponível em: http://www.guiafloripa.com.br/cultura/folclore/brincadeira-boi-de-mamao

Uso atual:

Há um grupo folclórico ativo no bairro São Pedro que mantém a tradição do Boi de Mamão.

Pontos Fortes:

Tradição no litoral catarinense.

Grupo folclórico do Boi de Mamão formado por crianças e adolescentes do bairro São Pedro.

Grupo folclórico do Boi de Mamão premiado e reconhecido pelo Ministério da Cultura através do projeto Humberto de Maracanã promovido em 2010.

Pontos Fracos:

Apenas um grupo ativo em Navegantes.

Foi descontinuado o incentivo nas escolas para prática do Boi de Mamão. Diminuiu a frequência das apresentações em Navegantes.

Direcionamentos:

Registrar como patrimônio imaterial da cidade. Fomentar novos grupos folclóricos em Navegantes.

Incentivar o atual grupo a pesquisar e desenvolver os antigos folguedos e tradições.